De forma atípica, o ciclo da seca do ano em curso teve início logo no mês de junho. Com efeito, o pico da vazante nos rios Solimões, Negro e Amazonas, segundo a Defesa Civil, deve ocorrer em outubro, alcançando níveis recordes. Há um temor generalizado de que se repitam os danos do ano passado devido aos baixos níveis dos rios para o período, indicando que a cheia de 2024 foi insuficiente para a recuperação das águas em padrão médio da bacia em ciclo normal. Em 2023, a seca foi extrema. Rios como o Negro, Solimões, Amazonas e Madeira superaram suas mínimas históricas, privando comunidades de acesso a água e comida. Plantações típicas da várzea foram perdidas devido ao aquecimento excessivo do solo e à falta d’água. As medições do Porto de Manaus comprovam: Na última sexta-feira, 19, o nível do Rio Negro alcançou 26,07 m, descendo à razão de 5/7 cm por dia. No ano passado, no mesmo 19 de julho, a medição apontava 27,42 m, secando em média 4 cm/dia. Quadro que, afirmam especialistas, dificilmente irá se alterar.
Diante da possível repetição da seca do ano passado, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (Faea), Muni Lourenço Jr., encaminhou ao governador Wilson Lima na semana passada propostas de medidas visando “minimizar os efeitos de nova e grave estiagem anunciada, que, se concretizada, voltará a prejudicar boa parte dos nossos produtores rurais, gerando graves e irreversíveis prejuízos à economia do Estado”. Por conseguinte, sem a BR-319 devidamente asfaltada, e com a navegação prejudicada, salienta o documento, “teremos sérias tribulações no abastecimento de insumos indispensáveis à atividade agropecuária”. O documento em referência, elaborado pela equipe técnica da Faea, elenca ações preventivas emergenciais e de longo prazo como forma de se antecipar a mais essa estiagem que se preanuncia e garantir o mínimo de danos ao produtor rural, ao comércio e à indústria do Amazonas.
Dentre as propostas, destacam-se: equipar os municípios incluídos no Decreto de Emergência com brigadistas, equipamentos, aviões e helicópteros para combate a incêndios florestais de origem e autoria desconhecida que destroem propriedades rurais, lavouras e pastagens; anistiar produtores rurais afetados pela seca em relação a financiamentos da Afeam e demais agentes que operam com crédito rural; adquirir a produção agropecuária para atender sedes municipais e zonas ribeirinhas prejudicadas; fornecer insumos aos produtores rurais evitando a morte de animais e a perda da produção agrícola; providenciar a construção de poços artesianos nas zonas afetadas; propor ao governo federal ampliar ações do “Programa Cisternas”; ampliar o “Programa Garantia Safra”, já iniciado no Amazonas, para atender produtores rurais dos municípios mais atingidos; ampliar o orçamento dos programas de irrigação, calcário e mecanização agrícola; abrir linha de crédito especial para a retomada da atividade agropecuária, assim como a distribuição de sementes e mudas a produtores cadastrados.
Tendo-se a informação como de vital importância para a sociedade, pois já se observou no passado certos direcionamentos no sentido de culpar o produtor rural por incêndios por eles comprovadamente não praticados, a Faea propõe, visando “evitar desencontros de informações que a divulgação dos fatos junto à mídia tenha a coordenação única do comitê de enfrentamento recentemente criado e que comporta 33 secretarias de estado”. Segundo Muni Lourenço, “os pleitos resultaram de reuniões com as lideranças rurais, ouvidos sindicatos, produtores, entidades, lideranças agropecuárias e técnicos do setor. Pelo que se observa, tais adversidades, infelizmente, deverão fazer parte do nosso cotidiano rural. Já pensando em outras ações de médio e longo prazo, o documento inclui, além das sugestões acima, outras propostas à consideração do governo do Estado”.
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